Imagens da literatura

Por Luiz Schwarcz

Publicado no livro
Imagens da literatura.

É um grande prazer ficar admirando as fotos que Renato Parada fez dos escritores ao longo de uma carreira ancorada na sensibilidade e num olhar cheio de humanismo. Os retratos compõem uma história que pode ser lida de múltiplas formas. Uma delas seria através do que nos contam as mãos dos retratados. Acho que apenas um par delas bate num teclado, o que mostra o quanto os leitores e a indústria do livro gostam e precisam conhecer os escritores, decifrar suas almas, não apenas seus textos. Há mãos que seguram joelhos, escondem a boca, se apoiam numa janela, se fiando mais no que está fora da foto, ou mãos que escondem um dos olhos da escritora, que estão escondidas nos bolsos — e todas elas têm algo a dizer.

Outros retratos me assombram por não representar a imagem que tenho de determinado autor. Conhecendo muito alguns deles, sou capaz de dizer “esta não é fulana” ou “este não é sicrano”. Talvez a força de algumas das fotos esteja em registrar o momento em que uma pessoa está longe de si — como acontece às vezes nos livros. Também é importante entendermos que ninguém reproduz sua imagem pública o tempo todo; autores e autoras, como qualquer pessoa, são sempre muitas e uma.

Os olhares, por vezes mirando direto para a objetiva da câmera, podem revelar algum traquejo com sessões de foto, ou seriam sinal de uma timidez até maior do que a daqueles que não encaram a máquina? Ao buscar o céu ou o chão, estarão procurando um refúgio ou, pelo contrário, miram alhures porque sabem lidar melhor com o papel de fotografado — capacidade que os de olhar rijo e centrado não têm? Tudo é um jogo, e o instante não carrega uma verdade só, mesmo sendo tão breve.

O que sei é que cada uma dessas fotos tem força, fala como falam os escritores, usando uma linguagem diferente, mas também cheia de complexidade.

Já houve um tempo em que a foto dos autores e autoras era menos requisitada do que hoje. Isso pode ser interpretado de diversas formas. O livro contava mais que seu autor? As pessoas se importavam menos com o aspecto e a imagem dos escritores? Estes tinham que performar menos e podiam escrever mais?

Tudo isto pode ser verdadeiro ou falso. Mas a conclusão que me cabe neste momento é: num mundo em que a imagem dos autores é fundamental, fotos significantes como as do Parada são ainda mais.